20130410

64, tributo ao felino

Um gato será sempre um gato
mesmo quando querem fazer dele um rato.

Um gato não tem medo de pedir
não tem medo de lamber o prato.

Um gato, e somente um gato,
desafia todas as suas vidas num salto.
 
Como não gostar de um gato?

Um gato, astuto gato.

Peripécias e historias de guerras e de encantar
podiam ser traduzidas pelo seu olhar.

Um gato, um simples gato com coração de leão.

Não é fácil a vida deste gato.
Não é fácil pedir, não é fácil miar.
Não é fácil saltar para o desconhecido sem o medo de falhar.
Não é fácil para um gato prosperar.
Não é fácil para um gato, que será sempre um gato
mesmo quando dele querem fazer rato.

63

E se quando tudo o que está certo estiver derradeiramente errado? E se todos os esforços e todas as lutas jamais lutadas por aquela pessoa que mais bem queremos apenas se revelarem motivos de chacota por parte de outros? O teu próprio coração posto em causa, em praça publica. Pronto para ser julgado, apontado, apedrejado. O que fazer quando nem todos os bons motivos do mundo chegam para chegar aos ouvidos de quem mais bem queremos? Então? Se daquela boca em que outrora saiam gemidos e juras de eternidades hoje saem criticas e palavras que nos molestam a alma... Tenho esperança e força suficientes para esperar o dia em que respires para ti todo o mal que me infligiste até hoje. Apenas que sofras o que me fazes passar. Nem mais, nem menos. O mesmo, na nossa pequena balança da mediocridade que é o amor entre mulheres que já à muito perderam a sua própria humanidade.

20130318

62

Hoje foi como se o próprio destino se tivesse agrupado em palavras dentro da tua boca, meu amigo. Tomando posse de ti e de todos os teus ossos e musculos, numa união de todo o teu ser e do que te faz seres tu mesmo. Ao fim ao cabo, a tua identidade por momentos posta de parte. Perguntei-te quase afirmativamente
'vamos lá na segunda?!'
'... vamos lá para quê??..', formulas-te tu, meu caro, como se para me dizeres que de nada me vale prestar a minha presença a quem não me quer ver mais. Por mais batalhas ganhas, e por mais que hão de vir, nada do que eu possa fazer agora apagará o passado e certamente não mudará a mentalidade alheia. Fizemos um breve silencio. Penso muitas vezes que tudo mudaria se ela constatasse a verdade, mas tal não passa de um pensamento ingénuo. Todos as pessoas tem a sua própria noção da verdade. E a minha está a ver quem passa, deitada num banco de jardim.

20130225

61

Somos chamados à razão. A realização do momento, o certo, o derradeiro, insinua-se perante nós. Dentro de nós. E é aí! Deixamos de tentar ser e simplesmente transformamo-nos. Em jeito de metamorfose largamos o nosso antigo eu e mudamos. Um desapego inconsciente, é claro, de tudo o que nos foi querido e precioso até então. Dá lugar a um surto de adrenalina para o desconhecido, como se a sede que toda aquela novidade trás não conseguisse ser consolada. Doí mudar, mas doí mais conformarmo-nos com pouco, sendo que o pouco é um pouco de nada. Por isso mudamos, corremos, batemos, gritamos, lutamos e no fundo evoluímos, mesmo que todo esse esforço não nos faça ir a lado algum, porque no fundo, e a verdade inquestionável, é que parar é morrer. Os vencedores re-inventam-se, renascem a cada obstáculo.

20130215

... e 60


Subi para a mota e disse-te “Anda. Levo-te a casa...”, não querias mas aceitaste. Foi então. Subiste para a mota e abraçaste-me. Como antes. Com surpresa. Como se nada se tivesse passado e tivesses simplesmente muitas saudades minhas por não me veres à mais de um grande dia de distancia. Senti os teus braços a envolverem-me e a tua cabeça a descansar no meu ombro direito. Assim ficámos por uns momentos. Suspiraste. Tens uma maneira simples de traduzir a palavra perfeição em gestos que me tocam. Podia ali ficar o resto na noite, só eu e tu e o teu abraço mas não aconteceu. Arranquei. Fugimos. Acordei. Não sei se te sonho mais do que já foste ou se simplesmente relembro a pessoa que queres esconder do mundo. Mas soubesses tu que te sonho, que te vejo, que te cheiro.. e que acima de tudo te escuto a ti e ao teu silencio.

20111118

59

oiço. como o som do dedilhar de uma guitarra no velho oeste. cordas secas. duras da ferrugem e do tempo. já nem sei de quem são as minhas mãos quando as vejo tocar. neste sol que abrasa de céu azulão-solitário com uma única nuvem que definha à passagem. o ar que respiro é seco e em seco engulo o nada que existe, dentro da boca que à muito perdeu o gosto. este tempo quente confunde-me, qual prisioneiro. liberto após longa sentença. O que faria eu com a liberdade caso ma fosse oferecida? não saberia sequer como pegá-la, torná-la minha depois de tanto tempo preso. bastaria falar-lhe ao ouvido? - questiono ao de leve, esboçando um sorriso - inclinar-me sobre toda ela, afastar-lhe o cabelo e bem junto ao ouvido sussurrar-lhe pausadamente "liberdade..... vem comigo!" ao que ela responderia que sim. que seria minha e eu seria dela e o mundo seria por fim tudo aquilo que estivesse ao alcance de nossas mãos. eu e a liberdade, livres... contudo olho para as minhas roupas gastas e percebo a realidade. sou prisioneiro, envelhecido e desgastado. com palavras que me prenderam ao solo gretado me fadei. hoje tudo o que posso é sonhar com aquilo que ainda não vem.

20111106

58

Não sei bem como me pus nesta situação, mas hoje dei por mim a passear pelas ruas desertas de Lisboa. Não as adjacentes, mas as que realmente retratam os contornos da nossa nação. O espirito da capital esculpido nos cantos dos predios pombalinos que rasgam o ceu até tocarem nas estrelas. Andei. Andei muito. Quilometros de chuva traiçoeira, que nem chove nem deixa chuver. Pensei em tanto. Em mim e nos "tu"'s que fui conhecendo. As facetas desta vida deixam-me preplexa, no sentido em que cada vez mais me arrependo de tudo o que fiz, e em especial do que não fiz, do que não disse e, certamente, do que não vivi. Vidas perfeitas aparte, sei, hoje, o preço da minha independencia. Foste tu. Um "tu" que já não volta pois tambem o meu "eu", mais feliz, ficou num passado mais que perfeito.